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Coluna - Josival Pereira

De Monte Horebe a Brasília, políticos fraudam regras, manipulam desejos e tornam a democracia capenga

Por Josival Pereira Publicado em
Manifestantes bra
(Foto: SBT/Reprodução)

Depois dos discursos de exaltação e promessas de defesa da democracia na diplomação de Lula e Geraldo Alckmin, presidente e do vice-presidente eleitos, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a segunda-feira deu uma desandada e escureceu perigosamente em Brasília.

Um grupo de manifestantes pro-Bolsonaro tentou invadir a sede da Polícia Federal (PF) e, após ser rechaçado por policiais, pôs fogo num ônibus com o motorista ainda dentro e vandalizou cerca de 10 carros nas ruas.

Os manifestantes protestavam contra a prisão do pastor evangélico e líder indígena José Acácio Serene Xavante, conhecido como Cacique Tserere, acusado de promover atos de cunho antidemocráticos em diversos locais de Brasília, inclusive em frente ao hotel onde Lula está hospedado, além de publicar ataques ao ministro Alexandre de Moraes.

O cacique, assim como centenas de manifestantes em todo o país, não aceita o resultado das eleições, afirma que as urnas foram fraudadas e acusa ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do TSE de agirem contra Bolsonaro. As aglomerações, além de não aceitarem o resultado das urnas, pedem intervenção militar e ameaçam a posse de Lula.

Na verdade, os manifestantes acampados em frente aos quartéis não aceitam a democracia. Não escutam qualquer argumento que não seja o de seu desejo ou vontade e vão investir contra o resultado das eleições mesmo sem qualquer razão.

A alienação dessa gente tem explicações. Além da manipulação de líderes políticos e religiosos sem consciência, a realidade política em grande parte do país é terrivelmente pouco democrática. Veja-se o exemplo das eleições suplementares em Monte Horebe, município de menos de 5 mil habitantes, localizado no Alto Sertão do Estado, realizadas no domingo.

Convocadas para eleger os nove integrantes da Câmara de Vereadores, cassados por fraude na cota de gênero, as eleições repetiram graves mutilações da democracia: apenas uma mulher conseguiu se eleger, 4 parlamentares cassados conseguiram se reeleger e 8 dos 9 vereadores são do mesmo partido, o MDB (todos os integrantes da bancada cassada eram do MDB).

O poder político local é todo concentrado num único grupo político, que acaba ocupando o Executivo, o Legislativo e, na ausência de autoridades do Judiciário, açambarca também funções policiais e de Justiça. O voto é apenas um detalhe; a democracia é capenga; o que funciona é a força do poder.

Pelo visto, então, o problema do Brasil é que todos querem fraudar as regras do processo democrático e inserir seus desejos nas urnas, não importando a vontade da maioria.

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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.