A Assembleia sob desconforto e constrangimento moral
O deputado Branco Mendes (Republicanos) pode até ter apenas seu próprio voto na disputa pelo controle da Mesa da Assembleia. Não importa.
Pode ser que a alegação de que o deputado Adriano Galdino (Republicanos) condicionou sua candidatura apenas ao segundo biênio em caso de impedimento jurídico e que, caso ganhasse condições legais de disputar, seria candidato já no primeiro biênio seja procedente. Também não importa.
O que importa nesse imbróglio da eleição para a Mesa da Assembleia é que o deputado Branco Mendes decidiu não passar em branco na desmontagem instantânea de um acordo político no qual, para o público, ele parece agora apenas uma peça descartável, e sua reação gera, no mínimo, uma situação de desconforto moral no Legislativo local. Revela também o pouco apreço da maioria dos parlamentares pela palavra empenhada e pela democracia.
É verdade que quem tem a força política na Assembleia é o deputado Adriano Galdino, que a usou para articular a formação de ampla lista de apoio ao projeto do Republicanos de assumir o controle do Poder Legislativo.
Na verdade, a articulação nem é, efetivamente, em favor do Republicanos. Hoje, os votos da grande maioria dos parlamentares e, portanto, o poder, é do deputado Adriano Galdino.
A questão é que, às vezes, o poder político atropela processos e machuca pessoas.
Se tem os votos, o deputado Adriano Galdino tem todo o direito de pleitear a presidência da Assembleia. Com a maioria que tem amealhado, nem precisa fazer concessões ou acordos para suposta divisão de espaços políticos.
Há quatro anos, o poder político de Adriano atropelou o processo de eleição para o segundo biênio e esmagou um acordo com o deputado Hervázio Bezerra. Agora, atropela Branco Mendes.
Talvez Adriano tenha até razão no caso de Branco. Dois parlamentares - Felipe Leitão (PSD) e Wilson Filho (Republicanos) - entraram em sua defesa, revelando que “todos sabiam”, incluindo Branco, que, se houvesse parecer jurídico favorável, ele seria candidato no primeiro biênio. Então a candidatura de Branco era apenas uma embromação? Por que colocar seu nome ou de qualquer outro numa lista de candidato?
As notícias divulgadas, não falavam de acordo condicionado a um possível evento jurídico futuro. As informações públicas relatavam uma articulação para composição de duas chapas para a Mesa da Assembleia, uma para o primeiro biênio e a outra para o segundo biênio.
Parece ter sido assim que o deputado Branco entendeu e é difícil imaginar que, com a postura que ostenta ao longo de muitos anos, ele esteja dando uma de João sem braço, ou seja, tenha feito um acordo e agora esteja se fazendo de desentendido. Branco parece ter acreditado que o jogo era verdadeiro e não uma brincadeira.
Seja como for, o descompasso gerado com a candidatura de Adriano Galdino aos dois biênios gera certo constrangimento geral, que começa com a frustração do próprio Branco. Sua reação insinuando traição no processo, gera constrangimento para todos os 30 deputados que assinaram a lista de apoio à sua candidatura.
Os parlamentares vão precisar se explicar porque não vão cumprir um documento que assinaram. Vai parecer que negociaram vantagens. Haverá constrangimento dentro na bancada do Republicanos. Para Adriano, vai parecer que ele não gosta de respeitar acordos. Para a Assembleia de uma maneira geral, a imagem que a confusão passa é que ali está uma casa de negócios. Nada mais constrangedor para todos.
Uma providência se faz urgente para começar a moralizar a escolha de dirigentes da Mesa na Assembleia: é acabar com a antecipação de eleição, que, por natureza, fere a normalidade do processo democrático.