João impõe estilo próprio e se reelege sem permitir ficar refém de grupos políticos
Durante toda a pré-campanha e campanha eleitoral, o governador João Azevedo (PSB) foi frequentemente criticado por uma suposta inapetência ou inabilidade política. A inapetência seria a ausência de apetite ou de vontade de realizar as articulações necessárias para a formação da coligação e da chapa. A inabilidade seria a falta de jeito e de jogo de cintura próprio da política profissional, que requer artimanhas para envolver aliados e adversários.
Em alguns momentos, setores da imprensa e até aliados chegaram a avaliar que faltava autoridade ao governador para impor ordem às disputas dentro de seu esquema político.
Teria sido por essas razões todas – era a avaliação – que o esquema político do governador João Azevedo se viu desfalcado de apoios como o do então deputado Efraim Morais e de seu partido político (União) e, posteriormente, do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB).
Eram comuns críticas ácidas de deputados e prefeitos à articulação política do governador, direcionadas quase sempre aos secretários Ronaldo Guerra e Nonato Bandeira. Em determinado momento, o presidente da Assembleia chegou a reivindicar publicamente a função de articulador político de João, que, em nenhum instante, se manifestou sobre os problemas apontados, além de manter inteira sua equipe.
Passadas as eleições, dá para perceber que o problema não era de inapetência, inabilidade ou desprezo pela articulação política ou equívoco de condução. O governador João Azevedo, pelo visto, tinha estilo e propósitos diferentes na condução do encadeamento partidário e formação da chapa para disputar a reeleição. Um estilo pessoal, menos afável para o jeito de se fazer política na Paraíba; mais contido, no sentido de que não demonstrava disposição para fazer qualquer tipo de acordo em nome da disputa eleitoral, mas verdadeiro e confiável nos relacionamentos e compromissos.
Não que tudo tenha sido flores nas articulações políticas do governador. Difícil entender o propósito na demora de definição do deputado Aguinaldo Ribeiro (se seria candidato a senador ou não), mas esse foi um fato que, efetivamente, atrapalhou a formação da coligação e da chapa, embora a indicação de Lucas Ribeiro como candidato a vice-governador possa ser considerada um acerto. Já a demora na escolha do candidato a senador causou prejuízos, sim.
Para os profissionais da política, os rompimentos de Efraim Filho e Veneziano seriam imperdoáveis num processo de articulação para a disputa do governo do Estado. Revolvendo os fatos, constata-se que o governador não parece ter feito muita questão de manter os dois como aliados, embora lideranças do Republicanos tenham tentado repatriar Efraim no período de realização das convenções.
A impressão que se tem é que, nesse campo de alianças com forças tradicionais da política estadual, o governador tenha limitado a manutenção da união com Aguinaldo Ribeiro e o prefeito Cícero Lucena, além da parceria com o Republicanos do deputado Hugo Motta.
O jogo mais complicado talvez tenha sido a escolha do partido a se filiar depois que o Cidadania decidiu se federar com o PSDB. A opção pelo PSB foi acertada porque colocava a campanha no espectro político de centro-esquerda e ainda podia se associar ao projeto da candidatura de Lula. Suportar indelicadezas e ataques do PT também não é uma atitude normal nos relacionamentos políticos profissionais, mas João, com certa paciência e habilidade, preferiu engolir sapos no 1º turno para ter os espaços que desejava no 2º turno.
No geral, uma conclusão perfeitamente plausível é a de que, desde o início, com uma coligação menos obesa, o governador João Azevedo buscou a reeleição sem permitir ficar refém de nenhum grupo político tradicional, o que parece ter conseguido. Resta usar a suposta independência para fazer um governo comprometido com o povo e o Estado. Sem amarras.