Por que o governador perdeu as eleições em João Pessoa e na região metropolitana?
O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (Progressistas), conforme notícia no blog do Anderson Soares, teria ensaiado uma explicação para a derrota de seu principal aliado político, o governador João Azevedo, na Capital. O desempenho negativo nas urnas (João ficou com 41,89% dos votos e Pedro com 58,11%) seria resultado da união das oposições.
A justificativa de Cícero contém apenas uma verdade. Vale para o segundo turno das eleições, mas não vale para o primeiro, quando o governador também perdeu obtendo apenas 29,20% dos votos válidos. O candidato Nilvan Ferreira (PL) chegou aos 31,10% (mais de 131 mil votos).
Por que, então, o governador João Azevedo perdeu os dois turnos das eleições na Capital, tendo obtido apenas um terço (1/3) da votação no primeiro turno e tomado uma maioria de 71 mil votos no segundo?
Corre nos bastidores duas outras possíveis explicações: votação maciça do bolsonarismo em Pedro Cunha Lima no segundo turno e a atuação de um suposto esquema financeiro nas cidades da região metropolitana nos últimos dias de campanha.
Desculpas da superficialidade das paixões ou tergiversações da política. O suposto esquema financeiro não teria atuado no primeiro turno e os resultados das urnas também foram negativos para o governador. O argumento da maciça votação de eleitores de bolsonaristas também não se sustenta, uma vez que a votação de Pedro é muito superior à de Bolsonaro, tanto na Capital como em Bayeux, Santa Rita e Cabedelo. Na verdade, os índices obtidos por Bolsonaro estão bem mais próximos dos conferidos ao governador.
Os resultados eleitorais em João Pessoa e cidades da região metropolitana negativos ao governador são consequência de erros de ações e omissões tanto do Governo do Estado quanto da gestão municipal. Os responsáveis são o próprio governador e o prefeito Cícero.
Observe-se que o governador, não por desprezo, mas pelo seu jeito de fazer política, não procurou estreitar vínculos com João Pessoa. Diferentemente do ex-governador Ricardo Coutinho, que disputava ações com o prefeito Luciano Cartaxo o tempo todo, João não fez boa divulgação de suas obras e programas sociais e falava pouco ou quase nada para a Capital.
Em relação ao prefeito Cícero Lucena, o marketing de campanha dos candidatos de oposição (e provavelmente do próprio governador) exibiam pesquisas que indicavam certa fragilidade na imagem da gestão, o que acabou não ajudando na campanha.
Observando-se os números das urnas, constata-se que a votação de Pedro Cunha Lima no segundo turno em João Pessoa, assim como em Bayeux e Santa Rita, se aproxima da soma com a votação do candidato Nilvan Ferreira. É como se o eleitorado de Nilvan, mesmo sem seu apoio explícito a Pedro, tivesse migrado para o tucano como expressão de oposição. Ou seja: é perfeitamente possível imaginar que, no vácuo dos problemas de gestões, Nilvan tenha cristalizado uma forte e estruturada oposição ao governo na região metropolitana. Na Capital, a oposição seria à gestão local e ao governo estadual. Esse parece ser o elemento essencial de uma avaliação mais consistente sobre o rescaldo das urnas na grande João Pessoa.