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Coluna - Josival Pereira

E agora: o Brasil é um país de esquerda ou de direita?

Por Josival Pereira Publicado em
Left and right road sign on the road 1 01

O petista Luís Inácio Lula da Silva, um candidato assumidamente do espectro político da esquerda, ganhou as eleições presidenciais, mas a direita parece ter saído mais fortalecida da campanha eleitoral, pelo menos segundo levantamentos de dois dos mais destacados institutos de pesquisas nacionais.

A última pesquisa que se dispôs a tentar mensurar os campos ideológicos no Brasil foi do instituto Quaest, realizada entre os dias 16 e 18 de outubro últimos. Segundo os dados, 40% dos brasileiros disseram se identificar com a direita, 19% com a esquerda e 32% com o centro; outros 22% não quiseram ou não souberam responder.

De cara, por esses números, parece difícil entender a vitória de Lula, mas outro levantamento, um do instituto Datafolha, vai explicar. Pesquisa realizada um junho indicava que 24% dos eleitores de direita admitiam votar em Lula e grande parte desses 32% de eleitores de centro, na verdade, tem inclinação para a esquerda (centro esquerda). Lula acabou conquistando um eleitorado mais diversificado.

De toda forma, é interessante, para a compreensão da evolução política no Brasil, acompanhar a onda de autodefinição ideológica dos brasileiros ao longo dos últimos anos.

Em 2006, quando Lula estava concluindo seu primeiro mandato na Presidência da República, apenas 26% dos brasileiros afirmavam se identificar com o campo ideológico da direita. Em 2013, pesquisa do instituto Datafolha estratificou o espectro ideológico da seguinte forma: esquerda pura: 10%; centro esquerda: 31%; direita pura: 10%; centro-direita: 29%; centro: 20%. Em 2017, num levantamento polarizado, 41% disseram se identificar com a esquerda e 40% com a direita, mantendo, mais ou menos, o mesmo quadro de 2006.

Em junho último, quando a campanha eleitoral propriamente dita estava começando e Lula liderava com certa folga, a identificação da população com a esquerda cresceu e chegou aos 49% da população, conforme pesquisa Datafolha. Naquele momento, apenas 34% diziam se identificar com a direita.

A avaliação mais próxima à votação em primeiro turno vai, então, mostrar 40% da população se dizendo de direita e 38% se declarando de esquerda e centro-esquerda, momento em que havia crescimento do presidente Jair Bolsonaro nas pesquisas.

Em resumo, o que essas pesquisas todas mostram é que o eleitorado de direita deixou de ser envergonhado e está se assumindo publicamente. Lógico que o Brasil sempre teve uma maioria de eleitores conservadores. Tanto que, em toda a história da República, o país foi governado por partidos e políticos de direita, com a breve exceção do governo de João Goulart, entre setembro de 1961 e abril de 1964, quando houve o golpe militar.

A ditatura devolveu o poder aos civis, em 1984, para forças de direita. A primeira eleição direta foi vencida por um candidato da direita, Fernando Collor de Mello, que despontou como a nova liderança conservadora do país. Todavia foi cassado e a partir de então forças de centro-esquerda e da esquerda governaram por 24 anos (Fernando Henrique duas vezes, Lula duas vezes e Dilma Rousseff, com um mandato e meio). A direita voltou ao poder com Michel Temer e continua com a liderança do presidente Jair Bolsonaro. Não é que cresceu, se revelou.

Duas dessas pesquisas mencionadas revelam também campos mais estratificados do espectro político, o que demonstra que o Brasil nem parece tão polarizado ideologicamente. O problema é que, como falta de candidatos identificados com os vários campos, o eleitor acaba se bifurcando nas urnas. Parece confuso, mas não deixa de estar havendo evolução na auto identificação ideológica do eleitor, o que pode ser bom para os partidos e para o país.

Imagem de aopsan no Freepik

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Josival Pereira

JOSIVAL PEREIRA, natural de Cajazeiras (PB), é jornalista, advogado e editor-responsável por seu blog pessoal.

Em sua jornada profissional, com mais de 40 anos de experiência na comunicação, atuou em várias emissoras Paraibanas, como diretor, apresentador, radialista e comentarista político.

Para além da imprensa, é membro da Academia Cajazeirense de Letras e Artes (Acal), e foi também Secretário de Comunicação de João Pessoa (2016/2020), Chefe de Gabinete e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Cajazeiras (1993/1996).

Hoje, retorna à Rede Tambaú de Comunicação, com análises pontuais sobre o dia a dia da política nacional e paraibana.