Nova onda da pandemia pode levar à covid crônica e causar sequelas de longa duração
Há quem imagine – e esse pensamento é externado diariamente em parte da imprensa – que uma nova onda da pandemia da covid-19 não teria maiores consequências, uma vez que a maioria da população já está vacinada, as mortes não são expressivas nem se prenuncia uma catástrofe nesse item e os números gerais ainda estariam sob controle.
Todos os argumentos parecem razoáveis, embora suportem contestações. No quesito vacinação, por exemplo, mais de 69 milhões de brasileiros não voltaram aos postos para a primeira dose de reforço e 32,9 milhões não tomaram a terceira dose. Esse é um flanco aberto por onde uma nova onda de covid pode causar problemas. Em relação a óbitos, não precisa dizer que toda morte importa, ainda mais se pode ser evitada.
A nova fase da covid na Paraíba, segundo os últimos boletins da Secretaria da Saúde, já está gerando média de 710 novos casos (média de 7 dias). A média de mortes é baixa, dois óbitos em 7 dias, mas o último boletim (23/11) registra quatro casos de morte. A ocupação de leitos já está em 35%.
Eis um complicador: a ocupação de leitos por covid tira a oportunidade de tratamento de outras doenças, atingindo uma ampla parcela da população com outras patologias. Essa é uma das razões que impõe preocupações em relação a uma nova onda da pandemia.
Mas existe um problema de maior gravidade e não é nada relacionado com possíveis restrições de locomoção e de comércio, que não vão mais ser decretados. O cientista Miguel Nicolelis, um dos principais estudiosos da pandemia do coronavírus, em texto que publicou nas redes sociais e na imprensa na semana, alerta que a uma nova onda da pandemia pode consolidar o que ele denomina de covid crônica. Outros especialistas chamam de covid longa. O professor Felipe Proenço, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e o ex-secretário Geraldo Medeiros (Saúde), concordam com Nicolelis.
A covid crônica ou longa são as sequelas de curto, médio e longo prazo que resultam da doença: déficit cognitivo, perda da memória, tosse persistente, limitação funcional respiratória e até AVC e infarto. Os estudos têm revelado que essas sequelas aumentam com as ondas repetidas de covid. Tudo isso resulta aumento de permanência hospitalar, complicações e mortes. A covid longa teria causado colapso no sistema de saúde do Reino Unido.
Diante do novo quadro, urge campanhas de vacinação de doses de reforço e a continuidade da vacinação de crianças e adolescentes, com maior envolvimento de Estados e municípios. Nesse ponto, o Ministério da Saúde e a Anvisa atrasaram processos para a compra de vacinas bivalentes, finalmente aprovados na terça-feira. O uso de máscaras em locais fechados e com aglomerações terá que ser exigido, pois impedir o crescimento dessa nova onda resulta em benefício para toda a sociedade. Pelo visto, não dá para deixar passar sem ação mais forte e articulada das autoridades sanitárias e cuidados da própria população.