Equívocos e evidências sobre a transferência de votos
Como era de se esperar, muito se tem falado sobre o poder de transferência de votos em processos eleitorais por essas bandas da Paraíba.
Existem fatos em destaque nas eleições paraibanas, que foram o apoio do ex-presidente Lula ao candidato Veneziano Vital do Rego (governador) e o uso em larga escala das falas do petista na propaganda do candidato local, além da vinculação intensiva de Nilvan Ferreira à imagem do presidente Jair Bolsonaro.
Houve, afinal, transferência de votos na Paraíba?
À primeira vista, há bastante frustração entre os partidários de Nilvan e de Veneziano com o resultado final da votação, levando-se em conta os votos obtidos por seus apoiadores.
Bolsonaro obteve 717.416 votos (29,62%) e Nilvan ficou com 406.604 (18,68%). Lula chegou aos 1.554.868 votos (64,21%) e Veneziano obteve 373.511 votos (17,16%).
Os números de Nilvan representam 56,6% do obtido por Bolsonaro; já Veneziano obteve apenas 24,02% da votação total de Lula na Paraíba.
Seriam esses os números de transferência de voto de Bolsonaro e Lula na Paraíba?
Essa conta não pode ser feita assim, de forma direta. Pesquisas realizadas antes da formalização do apoio de Lula a Veneziano indicavam que ele já tinha algo na casa dos 8%. Nilvan, no começo do processo eleitoral, já aparecia com 12%. Os dois só teriam ganho algo próximo a 10 pontos percentuais, o que justificaria a frustração de ambos os lados.
O problema é que existem graves equívocos em relação ao tema transferência de voto. Uma pesquisa do instituto Vox Populi, divulgada no início do micro processo eleitoral, avaliava em 30% o potencial de transferência de votos de Lula e Bolsonaro na Paraíba (30% do que tinham), mas os apoiadores esperam 100%. A avaliação estava superdimensionada. No auge de sua popularidade, o potencial de transferência de votos do então governador Ricardo Coutinho para Cida Ramos, nas eleições de 2016, em João Pessoa, só chegava aos 23%. A verdade é que a suposta transferência de votos é sempre bem menor do que se imagina.
A rigor, a literatura política ensina que “popularidade e simpatia não se transferem”, segundo o autor do livro A Cabeça do Eleitor (2008), o analista de pesquisas Alberto Carlos Almeida. Os marqueteiros em geral dizem o mesmo. Almeida é mais incisivo: “O candidato que quer ganhar eleição não deve se fiar nos apoios políticos que recebe, isso é muito pouco, na maioria das vezes é nada”.
Ora, se é assim, como Lula elegeu Dilma, considerada um “poste” nas eleições de 2010? Como alguns governadores e prefeitos elegem seus apadrinhados?
O próprio Alberto Carlos Almeida explica: “A transferência de votos muitas vezes é confundida com desejo de continuidade”. Ou seja: a transferência é de aprovação de governo, não de voto. O eleitor vota em continuidade. No caso Dilma, dá pra lembrar que ela virou mãe do PAC, do programa energia para todos e até do Bolsa Família”. Lula tinha potencial de transfusão, mas eram necessários uma boa receptora e o desejo de continuidade. Bingo.
Desse modo, candidatos que queiram usar apoios políticos devem lembrar que é preciso sempre casar a manifestação com algo bem concreto, sobretudo, o desejo do eleitor em continuidade de programas de governo.