Na Paraíba, o velho voto de cabresto ressurge num shopping center
O economista e escritor Francisco Sales Cartaxo Rolim, mais conhecido como Frassales, fundado em alentada pesquisa, escreveu, em 1979, o livro Política dos Currais, no qual retratava a política no interior do Nordeste, narrativa histórica complementada com outro livro de sua autoria, Do Pico de Pena à Urna Eletrônica, de 2006.
Explicita e implicitamente, em ambos, Frassales trata amplamente do voto de cabresto, que era a situação em que coronéis e patrões controlavam os votos de empregados, trabalhadores, agregados e pessoas sob a influência das usinas, fazendas de gado e de algodão.
O ambiente histórico dos currais era a República Velha e o quadro de dominação, embora mais arejado, que se estabeleceu depois de 1930, quando o movimento liderado por Getúlio Vargas tomou o poder nacional. Os personagens, de um lado, eram os coronéis, fazendeiros e chefes políticos, do outro, trabalhadores sem formação, analfabetos ou semianalfabetos e cidadãos sem instrução.
Na época, a oportunidade de trabalho era um favor. Contexto em que a dominação política ocorria com facilidade e o voto de cabresto era uma consequência natural. Olhando para o passado, embora inaceitável, dá até para se compreender a existência do voto de cabresto.
Imagina, porém, o ambiente de um shopping center em pleno 2022. Lugar que já foi chamado de templo do consumo, espaço onde o capitalismo melhor se materializa, onde a sociedade passeia consome, etc.?
Imagina a modernidade dos shoppings, suas lojas iluminadas e coloridas, a tecnologia facilitando compras, o mundo concentrado em um único local? E os empresários e empresárias cuidando de lojas mundiais, administradas com base em técnicas extremamente evoluídas? Perceba-se que, na maioria delas, os negócios são conduzidos por jovens homens e mulheres de negócios, linkados às últimas informações sobre organização empresarial.
Pois foi nesse moderno ambiente que o voto de cabresto ressurgiu ou estão tentando fazê-lo ressurgir. O Ministério Público do Trabalho na Paraíba (MPT-PB) recebeu várias denúncias de assédio eleitoral no Manaíra Shopping, em João Pessoa. Numa delas, um jovem empresário fez postagens num grupo de whatsapp revelando que havia enviado mensagens para colaboradores e pequenos fornecedores avisando que encerraria a relação de parceria se a esquerda vencesse a eleição. E explicou que era para dar um “susto”, “um choque de realidade”, entre outras ameaças.
Outros empresários também estariam promovendo assédio eleitoral, levando o Ministério Público do Trabalho, além de pedir a intervenção da Justiça, a obrigar a associação dos lojistas a transmitir, em 72 horas, mensagem a todos os associados orientando-os a se abster da prática de pressão eleitoral contra colaboradores diretos e indiretos.
Esse caso envolvendo empresários do Manaíra Shopping traz duas tristes constatações. A primeira é a de que o Brasil inaugurado em 2016 está voltando a antes de 1930 em relação a costumes e relações políticas. A novidade é o cabresto é o whatssap, a internet. A outra é a de que não adianta a evolução tecnológica se a mentalidade não acompanha, não evolui.