Legado da campanha: fake news profissionalizado, sofisticado e com cara de sistema de informação
A campanha eleitoral está chegando ao fim e vai ficando a sensação de que nunca se viu nada igual em termos de comunicação. Houve o predomínio de notícias falsas, meias mentiras, meias verdades, além da quase prevalência do discurso do medo.
Não que não tenha havido propaganda de propostas e ideias de planos de desenvolvimento, mas o lado positivo da campanha nacional foi tragado pelas informações mais negativas.
Imagina-se que, com a experiências de outras campanhas eleitorais em alguns países e no próprio Brasil, a Justiça Eleitoral pudesse controlar as chamadas fake news. Passou a sensação, no início da campanha, que era possível. Depois perdeu o controle geral.
Acabou a propaganda oficial no rádio e na televisão, mas, certamente, até o último segundo do domingo de votação, as redes sociais estarão inundadas de ataques e informações que desinformam por não retratarem a verdade em sua inteireza.
Duas novidades se fizeram notar em relação ao uso de fake news na campanha dos principais candidatos a presidente da República (Jair Bolsonaro e Lula). A primeira é que, quebrando um monopólio da direita até então, a esquerda apreendeu a usar as redes sociais para transmitir informações negativas sobre os adversários. A segunda é que o lado sujo das campanhas, que frequentava a nesga mais sombria das redes sociais, foi levado para espaço da propaganda oficial, no rádio e na televisão.
As notícias falsas, truncadas, montadas, deturpadas, manipuladas, etc. encontram terreno fácil no Brasil. Ganharam corpo na campanha eleitoral de 2018, mas se estabeleceram na pandemia da Covid-19. Pesquisas da Ipsos e da Avaaz, entre outras, revelam que 9 em cada 10 brasileiros com acesso à internet já receberam fake news e cerca de 70% acreditaram ou acreditam em mensagens falsas.
Agora, na campanha, levantamentos dos institutos de pesquisas chegaram a captar que 79% dos eleitores nacionais recebiam mensagens da disputa eleitoral via whatsapp, o canal mais caudaloso da sujeira política. Um elevado contingente de 49% admite ter decidido o voto com base em informações da internet. Lógico que os candidatos iriam abusar dessa facilidade.
O problema talvez seja de educação, desinformação e baixa consciência política. Todavia, há um lado sacana nessa história. O professor de Comunicação da Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Arthur Ituassu, constata, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, que as fakes news foram profissionalizadas e viraram um sistema de informação. Acrescente-se: um sistema sofisticado e tecnologicamente avançado. Parece, então, um grande negócio.
A população não acredita, mas está sendo manipulada. A real situação é que o sistema de fake news tem força para decidir uma eleição e o Brasil não está preparado com enfrentar o monstro.
Eis, pois, um triste legado da campanha eleitoral que está se encerrando.