Bolsonaro ganhou ou perdeu com o 7 de setembro?
Muito se tem falado e escrito sobre festejos e manifestações do 7 de setembro, eventos comandados pelo presidente Jair Bolsonaro. São análises diversas, mas o maior sentido é o de tentar extrair os efeitos na campanha eleitoral.
Muitos bons analistas avaliam que o presidente não somou nada com as manifestações. Alguns, porém, avaliam que ele se deu bom. E que se diz, então?
Existem obviedades. Uma delas é sobre a mistura de atos cívicos com campanha eleitoral. Bolsonaro extrapolou, mas parece ter sido guiado pela necessidade mais premente da campanha. Esse é um tema para a Justiça Eleitoral investigar.
Seja como for, a verdade é que Bolsonaro acabou promovendo os maiores comícios da atual campanha eleitoral. E de muitas outras na história. Vários analistas avaliam que presidente não ganhou nada porque falou para o público que já o segue. Outros acreditam, porém, que as manifestações transmitem a impressão de que presidente é competitivo e que os comícios vão animar na reta final da campanha.
Além disso, Bolsonaro inundou a imprensa o dia todo com sua imagem. Isso também pode contar na reta final da campanha.
A mensagem é o tema mais controvertido. Bolsonaro falou da melhoria da economia, das ações de seu governo, dos programas sociais e voltou a tentar pregar a corrupção na imagem de Lula e no PT, porém, teve o coro do “imbrochável”, que ganhou todas as atenções e voltou a colocar Bolsonaro no campo daqueles que têm ojeriza às mulheres. Reparando bem, foi o que ficou do discurso do presidente.
O tema é complexo e suscita variadas análises. Pelo viés psicanálise, por exemplo, o psicanalista Christian Dunker, professor da USP, vai dizer que o “imbrochável” pode revelar sexualidade frágil. Mas ele também vai observar que falas neste tom passam também “a percepção social de que homens brancos poderosos estão perdendo o seu lugar, que seu lugar está ameaçado”. Parece uma boa explicação para hipersexualidade no discurso presidencial.
Há outro viés bem carregado de evidências históricas. A ultradireita conservadora, sobretudo os segmentos mais ligados à religiosidade, sempre tentaram controlar a sexualidade do povo, com regras rígidas para as mulheres, desde o vestir, passando pelo comportamento íntimo e desembocando no comportamento social. Os homens seguem. Bolsonaro pode ter problemas pessoais, mas dá voz ao conservadorismo. Bolsonaro tenta dar unidade à direita nacional.
Desse modo, talvez seja preciso se reconhecer que as aparentes besteiras que Bolsonaro difunde tenham muita lógica. Uma lógica ideológica. Mais: ele não é um desorientado. Pode estar falando exatamente aquilo que os ideólogos orientam.
Do ponto de vista da campanha, Bolsonaro também parece seguir uma cartilha rigorosa. Ele não agrediu ministros nem deixou de levantar suspeitas sobre as urnas, mas, noutro tom, impulsionou seus seguidores a continuarem a pregação golpista e se preservou um pouco. Confundiu os adversários e a imprensa, que esperavam agressividade.
Mas, afinal, Bolsonaro ganhou ou perdeu com o 7 de setembro?
É preciso reconhecer que Bolsonaro ganhou fôlego, renovou a ideia de que é competitivo, impulsionou energia na militância para a reta final da campanha, reforçou posições político-ideológicas, voltou a se posicionar como um político antissistema e a ligar Lula à corrupção.
Esse discurso atrai indecisos? Neste ponto, o presidente perdeu. Não atrai. Mas pode mexer com o sentimento dos arrependidos, ou seja, daqueles que votaram em 2018, mas agora estão optando por outros candidatos. O alvo pode ter sido esse público.
Outro problema é que, ao dar super ênfase ao “imbrochável”, Bolsonaro pode também ter perdido a grande oportunidade de fazer um discurso mais parecido com o de um Chefe de Estado e de recuperar um pouco o sentimento de confiança.
Registre-se, porém, atrás nas pesquisas a essas alturas da campanha, Bolsonaro não tinha nada a perder. Por isso, arriscou. Jogou-se. A análise final virá no dia 2 de outubro.